Uma morrinha cobria o pátio em cimento nos primeiros tempos da tarde,
trocávamos o acalento dos corredores apinhados pela húmida e alternativa
entrada exterior. Língua Portuguesa na sala quinze depois de um furo
bem recebido.
Puxou-me desajeitado por um braço na promessa de revelar um
segredo, e deixei-me ir enfadada pelos coaxos. Na distância de alguns
metros, ao dobrar da esquina do pavilhão, a sala de química vazia,
persianas corridas até ao topo, era o cenário perfeito que ele
procurava. Aproximou-se sem aviso, encostando os lábios de anfíbio à
minha boca, e depois o deslizar da extensa língua ainda a saber a
moscas.
Pressionou-me entre o seu corpo rugoso e a flexibilidade do
plástico da persiana, mantendo-me cativa qual presa apanhada de
surpresa, os joelhos tremiam elevando-me cinco centímetros acima do
chão, segurou-me ferozmente pelas ventosas onde terminavam os seus
dedos. Não ofereci resistência, aguardando de olhos bem fechados até
deixar de sentir a sua enorme boca que quase me engolia.
Afastou-se e eu acolhi uma lufada de ar fresco e morno,
recuperando o equilíbrio. Acabara de reduzir a minha expectativa de vida
num minuto, mas era bom. O ritmo cardíaco lentamente decaia, e ele
olhava-me com aqueles olhos claros e protuberantes de sapo, com um esgar
parvo a rasgar-lhe o rosto.
Ao sublevar da campainha seguiu-se a entrada da professora na
sala, as maçãs ruborizadas anunciavam à plateia que se dava início ao
primeiro acto. Depois da Língua Portuguesa seguiu-se Ciências da
Natureza, e eu esperava ansiosa que as horas passassem, olhando por cima
do ombro na esperança que o Sapo se tivesse transformado finalmente num
Príncipe.
E que tal? Transformou-se?
ResponderEliminarnunca... desconfio que hoje continua o mesmo sapo de sempre...
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