terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o beijo

Uma morrinha cobria o pátio em cimento nos primeiros tempos da tarde, trocávamos o acalento dos corredores apinhados pela húmida e alternativa entrada exterior. Língua Portuguesa na sala quinze depois de um furo bem recebido.

Puxou-me desajeitado por um braço na promessa de revelar um segredo, e deixei-me ir enfadada pelos coaxos. Na distância de alguns metros, ao dobrar da esquina do pavilhão, a sala de química vazia, persianas corridas até ao topo, era o cenário perfeito que ele procurava. Aproximou-se sem aviso, encostando os lábios de anfíbio à minha boca, e depois o deslizar da extensa língua ainda a saber a moscas.

Pressionou-me entre o seu corpo rugoso e a flexibilidade do plástico da persiana, mantendo-me cativa qual presa apanhada de surpresa, os joelhos tremiam elevando-me cinco centímetros acima do chão, segurou-me ferozmente pelas ventosas onde terminavam os seus dedos. Não ofereci resistência, aguardando de olhos bem fechados até deixar de sentir a sua enorme boca que quase me engolia.

Afastou-se e eu acolhi uma lufada de ar fresco e morno, recuperando o equilíbrio. Acabara de reduzir a minha expectativa de vida num minuto, mas era bom. O ritmo cardíaco lentamente decaia, e ele olhava-me com aqueles olhos claros e protuberantes de sapo, com um esgar parvo a rasgar-lhe o rosto.

Ao sublevar da campainha seguiu-se a entrada da professora na sala, as maçãs ruborizadas anunciavam à plateia que se dava início ao primeiro acto. Depois da Língua Portuguesa seguiu-se Ciências da Natureza, e eu esperava ansiosa que as horas passassem, olhando por cima do ombro na esperança que o Sapo se tivesse transformado finalmente num Príncipe.

2 comentários: